Borges
compreende que a perigosa dignidade da literatura não é a de nos fazer
supor, no mundo, um grande autor absorto em suas mistificações
sonhadoras, mas a de nos fazer sentir a aproximação de uma estranha
potência, neutra e impessoal. Ele gosta que digam de Shakespeare: 'Ele
se parecia com todos os homens, exceto no fato de se parecer com todos
os homens.' Ele vê, em todos os autores, um só autor
que é o único Carlyle, o único Whitman, que não é ninguém. Reconhece-se
em George Moore e em Joyce - poderia dizer em Lautréamont e em Rimbaud
-, capazes de incorporar em seus livros páginas e figuras que não lhe
pertencem, pois o essencial é a literatura, não os indivíduos; e, na
literatura, que ela seja impessoalmente, em cada livro, a unidade
inesgotável de um único livro e a repetição fatigada de todos os
livros."
p. 139
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