"Só que em Veneza nada é simples. Pois não é uma cidade, não: é um arquipélago. Como poderíamos esquecer? De sua ilha, você olha a da frente com inveja: ali, há .. o quê? Uma solidão, uma pureza, um silêncio que não há, você juraria, do lado de cá. A verdadeira Veneza, onde quer que você esteja, está sempre em outra parte. Para mim, ao menos, é assim. Normalmente, contento-me com o que tenho, mas, em Veneza sou presa de uma espécie de loucura invejosa, se não me contivesse estaria o tempo todo na ponte ou nas gôndolas, procurando desvairadamente a Veneza secreta da outra borda. Naturalmente, assim que a abordo, tudo desvanece, me volto: o mistério tranquilo formou-se novamente do outro lado. Há muito me resignei: Veneza está lá onde não estou."
SARTRE, Jean-Paul.Veneza de minha janela, In: O sequestrado de Veneza. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 10
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