Hilda Hilst, poemas malditos, gozosos e devotos.
I "Pés burilados
Luz - alabastro
Mandou seu filho
Ser trespassado
Nos pés de carne
Nas mãos de carne
No peito vivo. De carne.
Pés burilados
Fino formão
Dedo alongado agarrando homens.
Galáxias. Corpo de homem?
Não sei. Cuidado.
Vive do grito
De seus animais feridos
Vive do sangue
De poetas, de crianças
E do martírio de homens
Mulheres santas.
Temo que se aperceba
De umas misérias de mim
Ou de veladas grandezas
Soberbas
De alguns neurônios que tenho
Tão ricos, tão carmesins.
Tem esfaimada fome
Do teu todo que lateja.
Se tenho a pedir, não peço.
Contente, eu mais lhe agradeço
Quanto maior a distância.
E dó porisso uma dança,
vezenquando
Se faz nos meus ossos velhos.
Cantando e dançando, digo:
Meu Deus, por tamanho esquecimento
Desta que sou, fiapo, da terra um cisco
Beijo-te pés e artelhos.
Pés burilados
Luz-alabastro
Mandou seu filho
Ser trespassado
Nos pés de carne
Nas mãos de carne
No peito vivo. De carne
Cuidado."
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