SÓ PARA VERSOS QUE LI...

sábado, 15 de junho de 2013

mrs. dalloway

“E Clarrisa inclinou-se, tomou-lhe a mão, atraiu-o para si, beijou-o – sentiu realmente a face dele contra a sua, antes que ela pudesse dominar no seu peito um tumulto de plumas argentadas, como ervas do pampa a um vento tropical, que, ao aplacar-se, deixou-a ali, segurando-lhe a mão, batendo-lhe no joelho e sentindo-se, quando tornara a sentar-se, extraordinariamente à vontade com ele e de coração leve; e instantaneamente pensou: se eu tivesse casado com Peter, teria essa alegria toda a vida.

Mas tudo estava acabado para ela. O lençol estendido e a cama estreita. Tinha subido sozinha à torre e deixara-os colhendo amora ao sol. A porta fechara-se, e lá em cima, entre a poeira do reboco caído e restos de ninhos de pássaros, de que distância se olhava e como os sonhos chegavam amortecidos! (aquela vez em Leith Hill, lembrou-se)e chamou um pensamento: ‘Richard! Richard!’, como uma pessoa adormecida que se sobressalta, e estende a mão no escuro, em busca de um apoio. Almoçando com Lady Bruton, lembrou-se. Deixou-me; estou sozinha para sempre, pensou ela, enlaçando as mãos no joelho.

Peter Walsh erguera-se e fora até a janela, onde permanecia de costas para Clarissa, passando pela face um lenço estampado. Impressionante, severo, desolado, parecia ele, com as mãos magras omoplatas a soergue-lhe o casaco; assoava o nariz. Leva-me contigo! Pensou Clarissa num impulso, como se ele fosse partir imediatamente pra uma longa viagem; e, no instante seguinte,  foi como se tivesse passado os cinco atos de uma peça excitante e movimentada, nos quais ela tivesse vivido toda uma vida e fugido, vivido com Peter e tudo agora estivesse terminado.”

p.48-49

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