SÓ PARA VERSOS QUE LI...

sábado, 15 de junho de 2013

mrs. Dalloway



"O estranho, quando recordava era a pureza, a integridade de seus sentimentos para com Sally. Não era como o que se sente por um homem. Era completamente desinteressado, e, de resto, tinha uma qualidade que só pode existir entre mulheres, entre mulheres recém-saídas da adolescência. Era um sentimento protetor por sua parte;provinha da impressão de estarem coligadas, o pressentimento de que alguma coisa fatalmente as separaria... Mas o seu encanto era irresistível, pelo menos pra ela, tanto que se revia parada em seu quarto do alto da casa, com o jarro de água quente nas mãos e dizendo em voz alta: ‘Ela está debaixo desse mesmo teto... ela está debaixo desse mesmo teto.’



Não, essas palavras agora não significavam exatamente nada para ela. Nem sequer lhe despertavam um eco da antiga emoção.  Mas poderia recordar ainda que sentira um arrepio de excitação e que começara a pentear os cabelos num espécie de êxtase ( e agora lhe vinha voltando os velhos sentimentos enquanto retirava os grampos, colocava-os no toucador e começava  a pentear-se), enquanto as gralhas se alçavam e abatiam então, na luz rosada co crepúsculo, e ela se vestira e descera as escadas, sentindo, ao cruzar o vestíbulo: ‘Se tivesse de morrer agora, nunca teria sido mais feliz.’ Esse o sentimento – o sentimento de Otelo, e sentia-o, estava certa, tão fortemente como Shakespeare pretendia que Otelo o sentisse, tudo porque baixava, vestida de branco, para jantar com Sally Seton!”


p. 36-37.

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