"O estranho, quando
recordava era a pureza, a integridade de seus sentimentos para com Sally. Não
era como o que se sente por um homem. Era completamente desinteressado, e, de
resto, tinha uma qualidade que só pode existir entre mulheres, entre mulheres
recém-saídas da adolescência. Era um sentimento protetor por sua parte;provinha
da impressão de estarem coligadas, o pressentimento de que alguma coisa
fatalmente as separaria... Mas o seu encanto era irresistível, pelo menos pra
ela, tanto que se revia parada em seu quarto do alto da casa, com o jarro de
água quente nas mãos e dizendo em voz alta: ‘Ela está debaixo desse mesmo
teto... ela está debaixo desse mesmo teto.’
Não, essas palavras agora não
significavam exatamente nada para ela. Nem sequer lhe despertavam um eco da
antiga emoção. Mas poderia recordar
ainda que sentira um arrepio de excitação e que começara a pentear os cabelos
num espécie de êxtase ( e agora lhe vinha voltando os velhos sentimentos
enquanto retirava os grampos, colocava-os no toucador e começava a pentear-se), enquanto as gralhas se alçavam
e abatiam então, na luz rosada co crepúsculo, e ela se vestira e descera as escadas,
sentindo, ao cruzar o vestíbulo: ‘Se tivesse de morrer agora, nunca teria sido
mais feliz.’ Esse o sentimento – o sentimento de Otelo, e sentia-o, estava
certa, tão fortemente como Shakespeare pretendia que Otelo o sentisse, tudo
porque baixava, vestida de branco, para jantar com Sally Seton!”
p.
36-37.
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